Sócrates e Cavaco
Em termos de táctica politica,
José Sócrates e Cavaco Silva, são duas faces da mesma moeda. Ambos planeiam o
seu futuro, medindo ao milímetro cada passo que dão.
É óbvio, para qualquer mortal que
se interessa por estas coisas da política, que Cavaco Silva não foi à Figueira
da Foz fazer a rodagem do carro. Foi com um objectivo bem definido, estudado ao
mais ínfimo pormenor, e que lhe correu da forma como foi programado. E melhor:
é que da mesma forma como conseguiu vender o peixe “das suas raízes humildes”
ainda hoje se fala da rodagem do carro.
Quando Cavaco se apercebeu de que
poderia perder as eleições legislativas, construiu o famoso TABU, que acabou
por se revelar ruinoso, quer para ele, quer para o PSD que perdeu as eleições
para António Guterres. Desta forma, embora muito desgastado e criticado, viu-se
obrigado, pela cúpulas laranja, a concorrer às eleições presidenciais, que
perdeu para Jorge Sampaio. A partir dai, minuciosamente, preparou o terreno que
dez anos mais tarde fez dele Presidente da República.
José Sócrates saiu de cena com a
mesma popularidade de Cavaco, que é como quem diz, “nas ruas da amargura”.
Dois anos depois, pela mão dessa
coisa que se chama RTP, José Sócrates reaparece, provocando ondas de choque em
todos os quadrantes políticos. Até em Espanha é tema de conversa, levando a
imprensa de referência a afirmar que “a ninguém passava pela cabeça que no
principal canal da TVE, logo após o telejornal da noite, aparecesse o ex-primeiro-ministro
José Luíz Zapatero a comentar a actualidade política semanal”.
Mas porque regressa Sócrates? Por
uma razão muito simples: colocar-se na linha da frente de candidatos a
Presidente da República.
Sócrates sabe que, por um lado,
nunca será a primeira escolha de António José Seguro e por outro, António Costa
ambiciona esse lugar. Mas sabe também que se Seguro não arranjar um nome forte
o lugar lhe pode cair nas mãos. Tal e qual como sucedeu aquando da sucessão de
Ferro Rodrigues na liderança do PS: Jorge Coelho, por razões de saúde e António
Vitorino, por interesses pessoais, não concorreram ao cargo de secretário-geral
do PS, entregando-lhe, de bandeja, o lugar.
Sócrates sabe que António Costa
nunca terá coragem de se lhe meter no caminho e desconfia que Guterres, o homem
mais desejado, não terá vontade de regressar à política nacional. Por isso pensa: terá o PS um
nome mais forte do que o seu?
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